quinta-feira, 26 de junho de 2014

Publicação da Nasa 'Arqueologia, antropologia e comunicação interestelar' não é o que parece.




A publicação "Arqueologia, antropologia e comunicação interestelar" (Archaeology, Anthropology, and Interstellar Communication) recentemente lançada pela NASA, agência espacial americana, causou certo 'frisson' em alguns meios de comunicação e blogs por ai (principalmente nos dedicados aos UFOS). Esta agitação, feliz ou infelizmente, me parece pelos motivos errados.


Com as recentes descobertas de inúmeros planetas, inclusive em configurações que vão de encontro ao que se sabia anteriormente, a busca por vida fora da terra ganhou força e atualmente empolga não só os antigos entusiastas da 'causa alien' mas também pesquisadores sérios.


Talvez esta empolgação tenha contribuindo para inflamar os ânimos dos leitores de manchetes, aqueles que se apegam aos títulos sem se ater ao conteúdo.


Kepler 186f é um exemplo de exoplaneta recentemente descoberto. Com um tamanho aproximado ao da terra e dentro da zona habitável de sua estrela ele deixou muita gente empolgada. O problema é que ele está a  500 anos luz da Terra na constelação de Cygnus http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2014/17apr_firstearth/


Tal leitura superficial da publicação pode dar a entender que a NASA, mais especificamente seu projeto SETI, fez contato com os 'seres verdinhos', 'Grays' ou 'Ashtar Sheran' e que estamos na eminência de um novo despertar civilizatório.


A publicação não tem absolutamente nada ver com isso. Ela é, na verdade, um compêndio de vários artigos de diferentes autores, PHD’s em suas respectivas áreas de atuação, que vão do relato das experiências do programa SETI e sua história até os estudos e especulações sobre inúmeros campos como a Antropologia, Psicologia, Sociologia, Matemática, Física e seu uso na busca por sinais de comunicação inteligente fora da Terra (ETI).


Perguntas como "o que é a vida?", "o que é inteligência?", "onde procurar?", "como comunicar-se?" são temas fundamentais discutidos na publicação pois o fato de não termos estabelecido contato com nenhum ser até agora pode tanto significar sua inexistência quanto o fato deles não estarem interessados em mostrar-se, sua incapacidade de comunicar-se ou mesmo nossa incompetência, não 'olhando' nos lugares certos ou não entendendo suas mensagens, além de outros fatores.


Sob esta perspectiva não encontrar sinais de ETIs parece mais palatável aos que anseiam pelos 'seres das estrelas'.


A única referência que temos



Mas para estudar uma suposta civilização extra-terrestre o que precisamos saber? Como compreender seu comportamento? Onde procurá-la?


Como tudo que temos até hoje somos nós mesmos uma maneira de estudar as formas de encontrá-los e compreendê-los é estudando o comportamento dos grupos animais e humanos, sejam estes modernos ou antigos, civilizados ou 'não-civilizados'. Um exemplo é o estudo de como escritas antigas, como os Hieroglifos, foram decifrados e por que outras nunca o foram como por exemplo Escritos Indus, Linear A e Elamite, Khitan e Escritos da América Pré-colonização.


Um caso bem interessante é O Manuscrito Voynish. Datado como sendo do século XV este manuscrito é um completo mistério para os linguistas, matemáticos e tradutores. Aparentando ser um livro de alquimia e cheio de ilustrações sua escrita é toda codificada. O mistério é tão grande que a hipótese deste ser uma farsa não é descartado.


O Manuscrito Voynish é uma publicação medieval cercada de mistérios. Ninguém nunca conseguiu decifrar seu conteúdo.  http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuscrito_Voynich


Por estes exemplos, que foram produzidos aqui em nosso planeta por pessoas como nós, podemos ver quão desafiadora é a arte de ler e interpretar códigos e mensagens.


Analisando os conceitos de símbolo e significado podemos, por exemplo, adotar melhores formas de interpretar sinais que, em princípio, poderiam ser confundidos com ruídos.


Nossa posição ‘antropocentrista’ pode, por exemplo, limitar-nos a procurar por certos aspectos que podem não ser os corretos como formas hominídeas, linguagem escrita ou mesmo seres baseados em carbono.


O ambiente extra-terrestre pode ser tão diverso que nada do que conhecemos hoje talvez encaixe-se no que eles realmente são.


O que é inteligência?



Nos acostumamos a acreditar que apenas os seres humanos são providos de inteligência e que seria este mesmo tipo de 'inteligência' aquela a ser buscada fora da Terra.


Porém uma análise mais detalhada das criaturas que vivem em nosso planeta nos mostra que existem inúmeros seres inteligentes, não só o homem.


Possuímos apenas um tipo específico de inteligência e ela, necessariamente, não é garantia de sobrevivência. Vide as inúmeras espécies que com diferentes formas de inteligência estão a muito mais tempo no planeta que nós.


Vale lembrar também que construir armas de estruição e massa em larga escala, que podem destruir várias vezes o planeta ou poluir a própria água que se bebe ou o ar que se respira estão muito longe de serem atitudes inteligentes, mas que efetivamente enfrentamos todos os dias.


Sendo assim devemos considerar na conta para as buscas fora da Terra a questão 'o que é inteligência?'.


Outro fato a considerar é que talvez nós mesmos não teríamos capacidade intelectual de reconhecer outras tecnologias que poderiam estar transmitindo sinais neste exato momento, mas que passariam despercebidas por nós.


Fazer ou não fazer contato? Eis a questão!



Um ponto interessante discutido é: devemos ou não procurar por inteligência extra-terrestre?


Alguns argumentam que enviar sinais para uma outra civilização pode ser perigoso pois diz a eles que nós existimos ou mesmo nossa localização, o que pode ser perigoso.


Apesar do debate sobre raças suficientemente avançadas serem ou não pacíficas algumas vozes dentro da ciência acreditam que é melhor ficarmos 'quietinhos' em nosso canto da galáxia, sem chamar a atenção de possíveis civilizações predadoras.


Civilizações extremamente avançadas poderiam extrair energia diretamente das estrelas de seu setor galático utilizando Esferas Dyson e com isso possuir energia suficiente para viajar e conquistar outros setores mais distantes. Não chamar a atenção deles seria a melhor política segundo alguns.


Outros afirmam que mesmo o simples fato de receber uma mensagem pode ser perigoso pois não sabemos ao certo como a população irá encarar o fato de o homem não estar só no universo. Uma grande desordem social poderia nascer desta revelação.


Comunicação extra-terrestre: um desafio quase paradoxal



Mas deixando de lado as polêmicas sobre intenções deste ou daquele uma questão fundamental surge: como nos comunicarmos?


Se enviarmos imagens de nosso planeta ou símbolos, será que eles terão ‘olhos’ para enxergá-las? Se enviarmos sinais binários (0’s e 1’s) como os que os computadores entendem eles conhecerão esta linguagem? E se conhecerem seu conceito (ligado ou desligado) saberão interpretar da mesma forma que nós os códigos?


Se enviarmos sons, como os que estão em discos de ouro nas sondas Voyager, os aliens terão ‘ouvidos’ para escutá-los? O ambiente em que vivem terá condições de propagar o som?


E mesmo que  recebam todas estas informações eles saberão interpretá-las?


A mesma pergunta podemos fazer a nós mesmos. Saberemos interpretar a cultura, a língua, o conhecimento alienígena? Talvez uma pergunta mais fundamental ainda seja: eles teriam estes conceitos de cultura, língua, conhecimento ou seria algo totalmente diferente?


Devemos lembrar que todos os seres vivos na Terra estão ligados de uma forma o outra pela evolução. Nosso genes não diferem tanto dos de um macaco ou de uma cenoura mas um ser ‘nascido’ em outra parte do Universo não teria ligação alguma com esta cadeia, o que pode ser altamente desafiador para nós e para eles.


Uma linha de pensamento muito adotada é a utilização de ‘informações fundamentais universais’ para a comunicação. Esta ideia é baseada no princípio de que as leis físicas e os conceitos matemáticos são os mesmos em qualquer parte do Universo e, desta forma, qualquer ser ‘inteligente’ poderia compreendê-las.


Como exemplo podemos citar a velocidade da Luz, as frequências de emissão de objetos astronômicos (como estrelas e pulsares), a gravidade, os elementos químicos, o conceito de números primos, o Pi, o número e e etc.


Pi é um número constante obtido pela relação entre o raio e o comprimento de um círculo qualquer. Se você tirar as medidas da tampa de um pote, de uma bola, da Terra ou de um planeta onde supostos alienígenas vivem o valor de Pi será exatamente o mesmo.


Este tipo de discussão é profundamente abordado no livro e coloca no leitor questionamentos muito interessantes.


Conclusão



Apesar da publicação ter como tema principal a busca por sinais de Inteligência Extra-terrestre, ela aborda temas muito 'humanos' e acaba por fazer um profundo mergulho nas raízes do conhecimento de nós mesmos, de nossas origens e de como nos relacionamos entre nós e com civilizações já extintas. Falar de extra-terrestres acaba sendo falar de nós mesmos.


A quantidade de informações interessantes e questionamentos são muito grandes no livro e este post apenas 'arranha' alguns dos temas abordados.


Goste você ou não do assunto 'Busca por Inteligência Extraterrestre' a publicação é interessantíssima pois discute temas que talvez não nos importássemos tanto se não fosse por nosso desejo em descobrir outras civilizações.


Nenhum comentário: