segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Sermões das Pedras*

Como sempre, voltamos aos gregos e suas antigas histórias. Mas desta vez falaremos acerca do tempo! O tema Tempo sempre fez parte das meditações humanas, e com ela a dúvida sobre a idade do cosmos. Tais divagações sobre o início e o fim não deixaram de ser pensadas por estes e suas idéias influenciaram muitas gerações adiante.

Universo Pulsante

O caso específico aqui é o tempo ou idade do Universo. Para gregos como Platão, Aristóteles e Pitágoras o Universo era cíclico, ou seja, florescia e morria, tornando a nascer novamente, como uma fênix cósmica.

Esta idéia do Universo cíclico era predominante na Grécia antiga e foi extendida para o tempo por Aristóteles. Porém tais idéias não passavam de especulações ou filosofia, já que não possuíam meios para as verificar.

Este tempo cíclico influía diretamente, segundo os gregos, na vida cotidiana do homem. Uma frase que ilustra bem este pensamento cíclico ou infinito pode ser observado na palavra de Eudemo de Rodes “Se acreditamos nos pitagóricos, tudo acabará voltando na mesma ordem numérica e eu voltarei a conversar com vocês, com o cajado na mão, e vocês se sentarão onde estão agora, e assim será com tudo mais”. Esta frase pode nos fazer lembrar de outro filósofo, Friederish Nietche, e seu eterno retorno. Em geral as teorias de um Universo ou existências cíclicas dão conforto às pessoas, retira de suas mentes a idéia de que tudo é finito, inclusive elas mesmas, algo demasiado incômodo.

Segundo Timothy Ferris, a idéia de um Universo de tempo infinito foi prejudicial no sentido do estímulo a se procurar calcular a idade do Universo, enfraquecendo inclusive a idéia de que o mundo pode evoluir. Um tempo infinito é problemático neste sentido. Porém em minha visão particular isto não é tão problemático, já que um Universo que se destroi e renasce ciclicamente é muito diferente se um Universo de tempo infinito, onde não existe começo nem fim como um contínuo. Neste caso o conceito de que as coisas podem evoluir é seriamente comprometido e são inúmeros os paradoxos e inconsistências.

A quebra do paradigma

Para Ferris, a quebra do paradigma veio com “a ascensão do modelo cristão do universo” que concebia um início e um fim determinados, trazendo a idéia de que a idade da Terra é finita e mensurável. Mas justamente com este conceito veio outro, o de finalidade, ou seja, de que o Universo era uma obra de um ser supremo (Deus) e que este Universo possuía uma finalidade.

Na visão antropocentrista cristã, descobrir a idade da Terra seria descobrir a idade do Universo, mas como medir tal idade já que desconheciam a geologia (pelo menos como a conhecemos hoje), os fósseis e outros conceitos indispensáveis para tal? A resposta seria refazer a cronologia baseada das escrituras, desde Adão até os dias atuais. Foram muitos os que realizaram tal tarefa, Eusébio, Kepler, Newton, até que no séc. XVII o bispo James Ussher chegou a data da criação do mundo como 4004 a.c.

O surgimento da Geologia

Deixando de lado a polêmica acerca da contribuição da filosofia cristã, passamos a investigar as origens dos modernos métodos de determinação da idade da Terra. Esta se deveu fundamentalmente no ocidente à Revolução Industrial, que ao escavar túneis e aprofundar cada fez mais as minas de carvão conseguiu trazer à luz um passado antes quase desconhecido, os fósseis, sendo estes os precursores para a revolução na determinação da idade da Terra.

Um dos primeiros geólogos a interpretar tais achados foi Abraham Gottlob Werner, verificando que sequências de camadas de fósseis e rochas apareciam na mesma ordem em locais muito distintos em várias partes da Inglaterra. Dai começam as primeiras idéias de como interpretar tais camadas e assim associá-las a passagem do tempo. O aparecimento dos fósseis logo colocou as doutrinas cristãs da criação em cheque, além das descobertas de novas espécies nas novas terras, antes não contabilizadas na Bíblia.

Disto veio o grande problema, “Como poderia ter ocorrido tudo isso no curto período de tempo mencionado pelo bispo Ussher, seis mil anos?”. A igreja encontrou como resposta ao paradoxo a teoria do catastrofismo, hipótese na qual as transformações geológicas em grande escala tinham ocorrido subitamente, em consequência de cataclismos, o que explicava a extinção das espécies sem violar a cronologia Bíblica, apesar do que tal teoria não satisfazia , em si, o problema da própria extinção.

Em contrapartida o geólogo Charles Lyell sustentava a idéia do uniformitarismo, segundo o qual as transformações geológicas e biológicas ocorriam por causas naturais e lentas. Mas Lyell não foi o primeiro a propor tais idéias. O químico James Hutton, ao perceber marcas de erosão em rochas, percebeu os processos lentos e graduais por que passou a Terra. Além disto as novas idéias também vinham de outras partes mais longínquas, como o espaço!

O naturalista francês Georges Buffon argumentou que a Terra começou como uma bola em fusão, que se resfriou lentamente, o que torna esta muito mais velha do que se imaginava (estimativa em 500 mil anos).

Porém foi Lyell quem demonstrou a força da teoria uniformitarista, coletando provas ao redor do mundo e percebendo que o planeta é semelhante a “uma entidade palpitante”, que está em constante movimento.

A principal argumentação de Lyell em defesa do uniformitarismo era o fato deste estar em aberto e se aperfeiçoar enquanto o catastrofismo era fechado, sendo que Lyell foi uma grande influência para Darwin e suas novas idéias sobre a evolução, contribuindo para e quebra definitiva do velho paradigma de tempo.

Suas descobertas de fósseis marinhos em montanhas, mamutes congelados na Sibéria e a teoria de formação de vulcões e montanhas foram passos fundamentais na consolidação das novas idéias. A imensa massa de argumentos que surgia conforme novas pesquisas e descobertas ocorriam, derrubou a teoria catastrofista e deu as primeiras idéias sobre um mundo muito mais velho do que se pensava. De milhares de anos poucos passaram a ser milhões.

*Este é o título original dado por Timothy Ferris no capítulo 12 de seu livro.

Referência: Timothy Ferris, O despertar na Via Láctea – Uma história da Astronomia, Editora Campus

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